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No Rio, Lei Seca usa drones para flagrar motoristas que cobram para ajudar condutores irregulares a escapar da blitz

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A fiscalização da Lei Seca, no Rio de Janeiro, está usando drones para flagrar motoristas que cobram dinheiro para ajudar quem tenta escapar da blitz.

Um esquema que tenta fazer das leis de trânsito um conto de fadas. O drone operado por agentes da Lei Seca fez o flagrante na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. O motorista de camisa azul-claro é multado por não ter carteira de habilitação. Ele é Paulo Lucas Santos de Paula, de 27 anos, o Paulinho, jogador do Vasco da Gama.

Paulinho é informado que para sair do local com o veículo precisa apresentar uma pessoa habilitada. Nesse momento, um homem de camisa preta, que Paulinho não conhecia, se aproxima. É Thiago Almeida Bianchi de Mattos. Ele é um tipo de motorista profissional conhecido entre os agentes como fada. Fica no entorno da blitz para levar o carro de motoristas impedidos de dirigir – e cobra por isso. O fada Thiago assume o volante. Paulinho entra no banco traseiro. Eles vão tentar enganar a Lei Seca.

O carro sai e para menos de 500 metros depois. Uma viagem de apenas 30 segundos. Os dois desembarcam e acertam o valor do serviço. Paulinho pega o telefone e, segundo a polícia, faz ali mesmo um Pix no valor de R$ 300. O motorista, sem carteira, assume o volante novamente, mas não vai muito longe. Logo adiante, ele é parado por agentes da Lei Seca, que monitoravam tudo. Os dois foram levados para uma delegacia.

Enquanto o jogador de futebol foi multado duas vezes na mesma noite por dirigir sem habilitação, o motorista Thiago Almeida Bianchi de Mattos foi preso em flagrante. Segundo a polícia, ele cometeu um crime quando entregou a direção do carro a uma pessoa não habilitada. A pena prevista é de seis meses a um ano de detenção. Thiago foi multa, perdeu sete pontos na carteira e vai responder em liberdade. De acordo com a Lei Seca, no dia seguinte ele já estava em outra blitz oferecendo seus serviços de motorista.

Um levantamento da Lei Seca mostrou que, desde 2021, o Thiago já dirigiu para 815 motoristas multados.

“Dezenas de pessoas, e estão em todas as operações. Se repetem, às vezes, são as mesmas pessoas. Então, a gente resolveu lançar mão dos drones que conseguem ter alcance muito maior e identificam todo o cenário”, afirma a tenente-coronel Patrícia Monteiro.

Nas últimas semanas, o Jornal Nacional acompanhou várias operações e flagrou outro fada conhecido da fiscalização. Em uma mesma noite, o estudante de direito Gabriel Simões passou cinco vezes pelo teste do bafômetro. Gabriel negocia ali mesmo com motoristas que tiveram o carro apreendido. Em três anos, ele dirigiu o carro para 656 pessoas paradas pelos agentes.

“Eu não cobro, não. Só trabalho com recursos de multas. Trabalho com escritório de advocacia que faz o recurso de multa. Eu faço isso já há três anos”, conta Gabriel Simões.

O advogado Marcelo Rebelo, do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB Rio, diz que a lei proíbe esse tipo de prática.

“Essa situação de estar em algum local onde pessoas possam estar cometendo algum tipo de infração de trânsito ou outro tipo de infração com objetivo de atrair clientes para um escritório de advocacia ou para um advogado configura, sim, uma infração disciplinar por parte do advogado do escritório de advocacia”, afirma Marcelo Pinheiro, membro do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB.

O Gabriel estava em outra blitz. Quando viu a nossa equipe, atravessou a rua, pegou a moto e foi embora. Foram as tentativas de burlar a fiscalização que fizeram o governo do estado recorrer a drones e também a fiscais em motocicletas. Medidas para garantir que a Lei Seca continue salvando vidas no trânsito.

Gabriel Simões, Thiago de Mattos e o jogador Paulinho de Paula não retornaram os contatos do Jornal Nacional.

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