Getting your Trinity Audio player ready...
|
Como um rolo compressor, 69 deputados da Assembleia Legislativa do Rio com exceção de um que não compareceu à sessão virtual —votaram, em plenário, pela abertura de um processo de impeachment contra o governador Wilson Witzel. A decisão unânime teve adesão até de três parlamentares do PSC, partido do governador, e juntou bolsonaristas e petistas. Foi uma votação simbólica porque, pelo regimento interno, o presidente da Alerj, André Ceciliano (PT), poderia ter tomado a decisão de forma monocrática. Ele optou, contudo, por dividir a responsabilidade com o parlamento. As denúncias foram embasadas em fraudes apontadas pelo Ministério Público Federal para as compras de respiradores e construção de hospitais de campanha durante a pandemia do novo coronavírus no estado. Nos bastidores, acredita-se que a possibilidade de um novo dossiê contra parlamentares possa ter influenciado na votação.
Desde que a relação entre Witzel e a Alerj azedou, cenário agravado pelo escândalo de superfaturamento nas ações de combate à Covid-19, 14 pedidos de impeachment foram protocolados na Assembleia. O rompimento com o presidente Jair Bolsonaro também foi um importante divisor de águas, reduzindo o apoio do PSL, partido que ainda detém a maior bancada da Casa (nove deputados), e de bolsonaristas de outras legendas.
Para tentar distensionar a situação com a Alerj, Witzel chegou a exonerar o secretário de Desenvolvimento Econômico, Lucas Tristão, no último dia 3. Ele virou desafeto de quase todos os deputados, ao ser acusado de ter preparado dossiês contra os parlamentares. Apesar de ter acalmado os ânimos, as mudanças na gestão feitas pelo governador, que já afastou seis secretários de estado este ano, não foram suficientes para aplacar a insatisfação do Legislativo Fluminense.
O fantasma dos dossiês, nos últimos dias, voltou a assombrar a Assembleia e foi determinante para acelerar a votação do impeachment e fazer com o que o tema entrasse em pauta nesta quarta. A princípio, o plenário só seria consultado na segunda quinzena de junho. Nos corredores do Palácio Tiradentes, deputados relataram terem sido ameaçados por um assessor especial de Wilson Witzel, lotado no gabinete do governador, caso votassem a favor do impeachment. Esse interlocutor teria se aproximado de Witzel durante a transição de governo e chegado a ocupar funções importantes nos gabinetes dos ex-chefes da Casa Civil André Moura e José Luís Zamith. Procurado, o governo estadual negou que atue na elaboração de dossiês contra deputados ou que tente interferir nas votações por meio de ameaças.
Um deputado, no entanto, garante que o assédio foi a gota d’água no cisma instituído entre o governo e a Casa e inviabilizou qualquer tentativa de apaziguamento político:
— O Palácio Guanabara continua achando que a intimidação é o melhor caminho. Estão errados. Só vão complicar ainda mais a situação na Alerj. Essa pessoa que nos ameaça é um aliado do Tristão e reproduz o seu modus operandi — acusou, pedindo anonimato, diferentemente do que aconteceu, em fevereiro deste ano, quando o próprio Ceciliano afirmou que o Legislativo era ameaçado com dossiês.
O único deputado que não votou nesta quarta-feira foi Rosenverg Reis (MDB). Em caso de afastamento de Witzel, quem assume o cargo é o vice-governador do Rio Claudio Castro, também do PSC.
Logo após a votação na Alerj, Witzel se pronunciou por nota.“Recebo com espírito democrático e resiliência a notícia do início da tramitação do processo de impeachment pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Estou absolutamente tranquilo sobre a minha inocência. Fui eleito tendo como pilar o combate à corrupção e não abandonei em nenhum momento essa bandeira. E é isso que, humildemente, irei demonstrar para as senhoras deputadas e senhores deputados. Como bem ressaltou o presidente da Alerj, André Ceciliano, e a maioria dos parlamentares, terei direito à ampla defesa e tenho certeza absoluta de que poderei demonstrar que nosso governo não teve tolerância com as irregularidades elencadas no processo que será julgado. Vou seguir nas minhas funções como governador e me preparar para a minha defesa. Tenho certeza que os parlamentares julgarão os fatos como eles verdadeiramente são”.