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Na quinta-feira, véspera do dia da mulher, o presidente Jair Bolsonaro já sinalizou como seria a comemoração da data no Palácio do Planalto. Em uma live feita em sua conta pessoal no Facebook, ele criticou um concurso do Banco do Brasil que exigia que o candidato tivesse concluído um curso de prevenção ao assédio moral e sexual – dois dos maiores problemas enfrentados por mulheres tanto nas relações pessoais quanto nas profissionais. Na solenidade em que homenageou as mulheres, já no dia 8, ele se sustentou em uma visão machista, disse que ama todas mulheres e recorreu à versão bíblica de que da costela de Adão surgiu uma mulher. “O homem, de sua costela, veio uma mulher. E, a partir desse momento, pela graça de Deus, de vocês vieram todos nós. Está na bíblia também que a mulher sábia edifica o lar”, disse o presidente durante discurso a uma plateia quase totalmente formada por servidoras.
No princípio de sua fala, disse que sua esposa, Michele, e a do vice-presidente Hamilton Mourão, Paula, eram as verdadeiras ocupantes das cadeiras no Executivo. Em outro momento, disse às espectadoras: “Vocês são quem realmente conduz (sic) o destino de uma nação. Não existe um homem, que possa fazer uma política séria, se não tiver, não ao seu lado, mas junto de si, uma mulher com os mesmos princípios”.
Considerado misógino por boa parte de seus opositores, Bolsonaro tem sido criticado por dar pouco espaço para mulheres e negros em seu primeiro escalão. É um governo predominantemente masculino, branco e militar. Ainda assim, quis fazer piada sobre o tema. “Pela primeira vez na vida o número de ministros e ministras está equilibrado em nosso Governo. Temos 22 ministérios, 20 homens e duas mulheres. Somente um pequeno detalhe, cada uma dessas mulheres que estão aqui equivalem por dez homens”, disse. E completou: “A garra dessas duas transmite energia para os demais.”
Em sua fala, uma dessas duas ministras, Damares Alves (das Mulheres, Família e Direitos Humanos), lançou outra informação falsa. Disse que, pela primeira vez no país há um ministério dedicado exclusivamente às mulheres. O ministério que ela ocupa, de fato, foi criado por Bolsonaro, já que na gestão Michel Temer (MDB) havia apenas a pasta dos Direitos Humanos. Contudo, de 2003 a 2015, nos governos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT) havia a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, que tinha status de ministério. Em outubro de 2015, Rousseff transformou a secretaria em Ministério da Mulher, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, pasta que acabou extinta por Temer sete meses mais tarde.
Aproveitando a data, os ministros Damares Alves e Sergio Moro (Justiça) assinaram um acordo de cooperação técnica para fortalecer as políticas públicas de combate à violência doméstica e lançaram a campanha “Salve Uma Mulher”. A intenção é conscientizar a população a enfrentar a violência contra o público feminino. O foco principal é treinar profissionais que trabalham em salões de beleza a identificar marcas de agressões contra mulheres e orientá-las a denunciar os agressores. “A campanha contará com profissionais da área da beleza, que poderão orientar suas clientes, considerando essa relação que muitas vezes é de confiança. Todos os casos de agressões devem ser denunciados. Por isso precisamos estar unidos nesse objetivo”, disse a ministra.