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Rio de Janeiro

Rua que é epicentro de casos e mortes pelo coronavírus no Rio tem histórico de problemas

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Conhecida como a “Veneza carioca”, a Rua do Amparo, uma das mais movimentadas de Rio das Pedras, favela na Zona Oeste do Rio, em nada lembra o romantismo da xará italiana. A região ganhou o apelido jocoso por conta dos constantes alagamentos, que só melhoraram quando, após uma obra de canalização da Cedae, comerciantes fizeram um mutirão para pavimentar o local, intervenção que o poder público ficou devendo. Agora, a comunidade precisa combater um outro problema: com apenas 280 metros de extensão, o endereço é o que mais concentra mortes e casos de Covid-19 em toda a capital fluminense. Os números fazem parte de um levantamento do aplicativo Covid por CEP.

A ferramenta, criada pelo arquiteto carioca Thales Mesentier, usa dados oficiais da Prefeitura do Rio e do Ministério da Saúde para mapear a doença pelo código postal, mostrando a incidência rua a rua. Nesta sexta-feira, a Rua do Amparo contabilizava nove óbitos e 117 casos confirmados do novo coronavírus, de acordo com o mapa interativo que tem feito sucesso nas redes sociais.

— Era uma ideia que eu tinha desde o início da pandemia da Covid-19. É muito importante um mapeamento espacial detalhado. Quanto mais preciso for o mapeamento local, melhor é o controle que se pode fazer — afirma Thales, que completa: — Na Alemanha teve um surto muito localizado numa fábrica e eles conseguiram detectar e tratar logo, com base em iniciativas como essa.

De acordo com o app Covid por CEP, além da Rua do Amparo, os endereços com mais mortes em decorrência da infecção por coronavírus são a Rua São Miguel, na Tijuca, a Rua Gustavo Sampaio, no Leme, a Estrada dos Caboclos, em Campo Grande, e a Rua Nilópolis, em Realengo. Veja abaixo os números de cada um desses endereços.

O site Covid por Cep usa dados da Prefeitura do Rio e do Ministério da Saúde para localizar os casos e as mortes pelo coronavírus
O site Covid por Cep usa dados da Prefeitura do Rio e do Ministério da Saúde para localizar os casos e as mortes pelo coronavírus Foto: Reprodução
A Rua do Amparo, em Rio das Pedras
                                  A Rua do Amparo, em Rio das Pedras Foto: Guito Moreto/11.4.2017

Na Rua do Amparo, não parece haver uma preocupação em conter o número de casos. O clima na região não é de medo, mas de normalidade pré-pandemia, segundo Rebeca Braga, funcionária de um restaurante no local.

— As pessoas voltaram a agir normalmente, vejo muita gente andando aqui na rua sem máscara. No próprio restaurante, clientes não se preocupam em passar álcool em gel nas mãos — lamenta.

Um morador da região que se identificou apenas como Luiz Alberto disse conhecer todos os moradores da Rua do Amparo contaminados pelo coronavírus, inclusive os que perderam a batalha contra a doença.

Aquela rua é muito complicada — diz, referindo-se não só aos casos de Covid-19, mas ao histórico de problemas da Amparo.

Segundo ele, o local começou a sofrer alagamentos constantes depois que foram erguidos prédios residenciais e comerciais, muitos irregulares, prejudicando o escoamento de água:

Antes das construções irregulares não ficava daquele jeito. Mas, de alguns anos para cá, aquilo lá se tornou um grande problema. Pensamos que a duplicação da Avenida Engenheiro Souza Filho ia ser uma solução, mas não deu em nada. Deus permita que no próximo temporal as obras feitas pelos comerciantes suportem.

Monitoramento da prefeitura nas comunidades

Procurada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que monitora a situação da pandemia nas comunidades cariocas, em especial no Rio das Pedras, onde foi verificado alto índice de casos positivos durante a primeira fase da pesquisa epidemiológica feita em parceria com o Ibope. O resultado da primeira fase mostrou que o maior percentual de casos positivos nas seis regiões pesquisadas ocorreu na Cidade de Deus (28%), na Zona Oeste, seguida de Rio das Pedras (25%) e Rocinha (23%), que fica na Zona Sul.

Ao todo foram testados 3.210 moradores das comunidades da Maré, Rocinha, Cidade de Deus e Rio das Pedras, além de Campo Grande e Realengo, na primeira fase da pesquisa. De 1º a 7 de julho, a fase dois da pesquisa epidemiológica foi feita nas mesmas seis comunidades já testadas. A previsão é que os dados sejam analisados e confrontados com os resultados da primeira fase a partir de 13 de julho.

Além das pesquisas e orientações sobre a pandemia em Clínicas da Família e unidades municipais de saúde, a Prefeitura do Rio informou que inaugurou centros de imagens em comunidades. Segundo a nota, Rio das Pedras foi contemplada com duas ações. Por causa dos efeitos da pandemia na comunidade, o horário de atendimento da Clínica da Família Helena Besserman Viana, que cobre parte do bairro, foi ampliado. A unidade, que conta com 14 equipes de Saúde da Família e atende cerca de 56 mil moradores da região, passou a funcionar até às 22h.

Confira os CEPs com mais mortes pela Covid-19 no Rio:

  • CEP 22753-050 — Rua do Amparo, em Rio das Pedras: 9 mortes
  • CEP 20530-420 — Rua São Miguel, na Tijuca: 8 mortes
  • CEP 23017-000 — Estrada dos Caboclos, em Campo Grande: 8 mortes
  • CEP 21720-040 — Rua Nilópolis, em Realengo: 8 mortes
  • CEP 22010-010 — Rua Gustavo Sampaio, no Leme: 8 mortes
  • CEP 20765-171 — Estrada Adhemar Bebiano, no Engenho da Rainha: 8 mortes

Confira os CEPs com mais casos confirmados da Covid-19 no Rio:

  • CEP 22753-050 — Rua do Amparo, em Rio das Pedras: 112 casos confirmados
  • CEP 22451-265 — Estrada da Gávea, na Rocinha: 110 casos confirmados
  • CEP 22630-010 — Avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca: 108 casos confirmados
  • CEP 22250-040 — Praia de Botafogo: 102 casos confirmados
  • CEP 22620-311 — Avenida Prefeito Dulcídio Cardoso, na Barra da Tijuca: 95 casos confirmados
  • CEP 20541-000 — Rua Gonzaga Bastos, em Vila Isabel: 94 casos confirmados

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