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Num cenário atípico, a virada para 2021 não contará com tradições cariocas como fogos no céu de Copacabana, a simpatia de pular sete ondinhas à meia-noite e oferendas levadas ao mar. Com a pandemia, que já matou cerca de 25 mil pessoas somente no Rio, o réveillon na cidade também não terá hotéis abarrotados de turistas. Para muita gente, a noite será marcada pela reflexão, com pequenas celebrações em casa e muitos pedidos de “saúde para dar e vender”.
A prefeitura já anunciou que Copacabana será fechada a partir das 20h de quinta-feira: carros não poderão circular pelo bairro, assim como os ônibus. E não haverá metrô da Central à Barra a partir desse horário. Além disso, o município proibiu, neste sábado, queima de fogos e uso de equipamentos de som em toda a orla. O cancelamento de um dos maiores espetáculos do país impôs mudanças aos festeiros da cidade e também a devotos de Iemanjá.
A cantora Branka é uma das pessoas que mudaram de planos. Ela costumava passar as viradas de ano à beira-mar, geralmente em Copacabana. Desta vez, ela e o marido, o músico Carlinhos Sete Cordas, vão adaptar o ritual. Devotos de Iemanjá, eles se dedicavam a montar um pequeno barco de madeira para ser lançado às ondas. Por causa da Covid-19, vão entrar em 2021 com alguns parentes no quintal de casa, em Santa Teresa. O barquinho estará lá, mas para ser entregue depois.
Eu e meu marido decidimos fazer o ritual de um jeito diferente. Junto à mesa, vamos montar um altar com um barco, um espelho e palmas, tudo para Iemanjá. Faremos nossos pedidos e agradecimentos. Num outro dia, quando não tiver aglomeração, vamos à praia, cedinho, para colocar o barquinho no mar. Pensamos nessa saída, mantendo o carinho e a devoção que sempre tivemos — conta a cantora.
Teste e queda nas reservas
De diferente neste fim de ano, também há a corrida por exames de Covid-19 por cariocas que vão passar a virada com amigos e parentes: a clínica Villela Pedras registrou na última semana um aumento de 600% na procura pelo teste nasal — parecido com o PCR, mas com resultado quase instantâneo. Para realizar o exame (que custa R$ 260) no posto rápido na Barra, não é necessário atestado médico. Por isso, há filas de carros no local.
O resultado do exame não é um atestado de liberdade dos cuidados. Mas é uma forma de identificar os assintomáticos e evitar que contaminem seus familiares. Nessas últimas semanas, percebemos um público mais jovem procurando fazer o teste. Infelizmente, para alguns, o motivo é participar de festas com 50, 60 pessoas — conta Marcos Villela Pedras, sócio-diretor da clínica.
Dados da Associação de Hotéis do Rio (ABIH-RJ) mostram que Copacabana perdeu nas últimas duas semanas 25% do número de reservas feitas para a virada. Em toda a cidade, a taxa de ocupação de quartos esperada é de 53% no dia 31.
A Barra tem sido um dos destinos preferidos: os hotéis do bairro registraram um aumento de 15% nas reservas nas últimas duas semanas. Sem shows e fogos na orla, a explicação seria a busca por festas privadas. Fora da capital do estado, lugares mais tranquilos registram maior procura por quartos. Em Itatiaia, a previsão de ocupação de pousadas foi de 90% para 95%; em Vassouras, passou de 75,5% para 77%. Já Búzios, que chegou a ficar em lockdown a mando da Justiça, teve uma redução de 32% nas reservas.
Caxias em vez de Búzios
A DJ Cristal passou o último réveillon trabalhando numa festa em Búzios. E todo ano era assim, longe da família, por motivo profissional. Desta vez, ela diz que o réveillon será bem diferente:
Vou passar com a família. Eu, meus pais, irmãos e sobrinhos, em Duque de Caxias. Profissionalmente, o ano-novo é o feriado mais importante para mim. Mas gosto da ideia de poder estar ao lado dos meus parentes. Estamos precisando muito disso.
Antiga festeira da cidade, a socialite Regina Marcondes Ferraz, que fazia uma disputada comemoração de réveillon no Edifício Chopin, em Copacabana, conta que passará a virada em seu apartamento de frente para o mar sem parentes, só na companhia de uma funcionária que está com ela há 33 anos.
Vou passar na janela. Não sou nem maluca de descer — afirma Regina, dizendo que é festeira, mas que também gosta de ficar sozinha em seu apartamento, no prédio mais badalado do réveillon de Copacabana, onde vive há 46 anos. As festas não são glamourosas como eram. Tudo tem sua fase. Vou decorar a casa com flores e tomar meu champanhe pedindo a Deus que nos ajude.