Getting your Trinity Audio player ready...
|
Os acontecimentos desta segunda-feira, 29/1, envolvendo a apreensão do celular e notebook do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), tornaram-se um verdadeiro espetáculo de horrores. Inicialmente, houve uma pseudo-fuga de lancha, que foi posteriormente esclarecida como uma simples pescaria de Carlos, seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, e os irmãos. Posteriormente, surgiu a informação de que Carlos estava com um notebook da ABIN, fato não confirmado pela Polícia Federal. Além disso, mencionou-se que um assessor teria outro notebook, mas na verdade pertencia à esposa, que trabalha na Agência. Esses acontecimentos ocorreram pouco tempo depois da busca e apreensão semelhante realizada na casa do candidato a prefeito do Rio pelo PL, Alexandre Ramagem. Na residência dele, de fato, foram encontrados celular e notebook da ABIN, provenientes do período em que ele foi diretor-geral.
Com o anúncio do nome de Ramagem, já se esperava que surgissem denúncias contra ele, algo comum para qualquer candidato bolsonarista. Especialistas e políticos já apontavam que ele seria um “boi de piranha“, aguardando apenas algo que o retirasse da campanha. Ser candidato de Bolsonaro a algum cargo executivo parece ser uma maneira eficaz de ter a reputação prejudicada.
Apesar das declarações do PL e de outros aliados para a imprensa, a continuidade da candidatura de Ramagem parece improvável. Embora possa ganhar popularidade nas pesquisas, vendendo a imagem de perseguido pela imprensa, pelo Judiciário e pela esquerda, as provas de má conduta contra ele tornam sua candidatura instável e sujeita a cassação a qualquer momento pelo TSE. Considerando a falta de amigos dos Bolsonaro no Poder Judiciário, a candidatura deve ser cuidadosamente avaliada, especialmente dada a soma considerável necessária para lançar um candidato à Prefeitura do Rio, mesmo com os recursos do Fundo Eleitoral do PL.
Candidatura Própria
O Partido Liberal deve dar preferência a uma candidatura própria, embora faltem nomes para substituir Ramagem em suas hostes. Especialmente que possam ter o mesmo grau de intimidade e confiança que o ex-delegado da PF tinha com a Família Bolsonaro, quase ninguém tem, e quando tem, é por pouco tempo.
Há General Pazuello, conhecido da população, mas possivelmente faltando a vontade de suportar as mesmas perseguições e atualmente satisfeito como deputado federal. Hélio Lopes, o Hélio Negão, conta com intimidade e confiança dos Bolsonaro, mas falta-lhe carisma e capacidade de ser candidato ao Poder Executivo. Luiz Lima foi candidato em 2020, mas não teve bom desempenho. Carlos Jordy planejava tentar Niterói, mas enfrenta desafios semelhantes de Ramagem. Outros federais são ala do PL de Altineu Cortes.
Na Alerj, faltam nomes fortes ou com experiência, ou que passariam no crivo do eleitorado carioca. India Armelau está em seu primeiro mandato, Márcio Gualberto no segundo, mas sua imagem pode assustar o eleitorado menos conservador, e outros nomes poderiam passar pela mesma destruição de imagem que Ramagem. A complexidade da dinâmica política no Rio de Janeiro é evidente, e o texto destaca os diferentes cenários e opções que podem surgir nos próximos meses.
Chris Tonietto
A exceção nesse cenário é a deputada federal Chris Tonietto, cuja trajetória política e perfil a destacam como uma potencial substituta para Alexandre Ramagem. Com mais de 50 mil votos em 2022, ela se tornou uma figura importante no contexto bolsonarista, unindo dois públicos cruciais para o movimento: mulheres e jovens. Aos 32 anos, prestes a completar 33 nas eleições, Chris Tonietto foi eleita pela primeira vez em 2018 pelo PSL e reeleita em 2022 pelo PL, sempre alinhada ao conservadorismo.
A deputada é uma católica praticante tradicionalista, membro do Centro Dom Bosco e ativa entre os principais nomes da Igreja Católica no Brasil, incluindo o famoso Padre Paulo Ricardo. Sua posição como presidente do PL Mulher no Rio de Janeiro, entidade que tem Michelle Bolsonaro como presidente nacional, destaca seu papel de liderança no partido.
As pautas defendidas por Chris refletem sua postura conservadora, sendo contrária ao aborto, à identidade de gênero, ao comunismo, à liberação das drogas e ativa no ativismo judicial. Ela também destaca a importância da recuperação da identidade católica no cenário público brasileiro, em defesa da fé católica.
Considerando o contexto conservador do Rio de Janeiro, especialmente fora da Zona Sul e da Tijuca, onde o catolicismo tem grande influência entre as elites, Chris Tonietto emerge como um nome robusto e potencialmente aceitável para substituir Ramagem, caso a situação deste se torne insustentável.
Apoio a outro partido
A sorte dos Bolsonaristas reside no fato de que os candidatos conservadores não se limitam ao PL. Mesmo que alguns possam não ser tão conservadores ou não contem com a mesma confiança de Jair Bolsonaro, estão inseridos no campo que os eleitores bolsonaristas prefeririam apoiar. Isso reflete a ideia de que o bolsonarismo ultrapassou o próprio nome do Capitão, indicando uma tendência de apoio a candidatos que compartilham valores e ideais alinhados com o movimento bolsonarista, independentemente do partido ao qual estejam filiados.
Otoni de Paula (MDB)
Otoni de Paula emergiu como um dos primeiros candidatos à prefeitura do Rio em 2024, surpreendendo aqueles que duvidavam da viabilidade de sua candidatura por mais de dois meses. Seu nome enfrentaria possíveis obstáculos, como a oposição de Washington Reis, então presidente estadual do MDB, no entanto, isso não ocorreu. Cláudio Castro, governador do Rio, também não interferiu, dado sua limitada influência nesse contexto. Além disso, não houve composição entre Eduardo Paes e Leonardo Picciani, fortalecendo assim a sua candidatura e culminando na sua nomeação como presidente municipal do MDB do Rio.
Otoni pode ser considerado possivelmente mais bolsonarista do que o próprio Ramagem, evidenciado pelo bloqueio de suas contas nas redes sociais pelo Ministro do STF Alexandre Moraes e pelo mandado de busca e apreensão em 2021 por incitação a atos violentos e ameaçadores contra a democracia. Apesar desses episódios, que não resultaram em consequências significativas, Otoni recuperou suas redes sociais e está ativamente envolvido em campanha. Sua estreita relação com Jair Bolsonaro pode ser um trunfo, especialmente se o PL optar por uma composição com outro partido.
Embora o MDB, a nível nacional, faça parte do governo Lula, no estado do Rio, a agremiação esteve ao lado de Castro e Bolsonaro. Com um eleitorado fiel, o apoio do PL poderia catapultar Otoni para o segundo turno, destacando seu potencial na corrida eleitoral.
Rodrigo Amorim (?)

Rodrigo Amorim, atualmente no PTB, é um fato que deixará o partido para se juntar a Rodrigo Bacellar no União Brasil. Seu nome chegou a circular nas primeiras pesquisas para prefeito, mas foi posteriormente deixado de lado, especialmente após o apoio de Jair Bolsonaro a Alexandre Ramagem. Contudo, com os eventos de janeiro, seu nome pode ressurgir como uma opção viável para a prefeitura.
Amorim é um verdadeiro representante do Bolsonarismo, mantendo em seu gabinete uma placa com o nome “Rua Marielle Franco” que ele quebrou. Ele se destaca como um dos poucos políticos, assim como Otoni, que tem liderado uma forte oposição a Eduardo Paes. Essa oposição, embora por vezes possa errar no tom, o posiciona claramente como anti-Paes em alguns temas.
Uma possível aliança entre o PL e o União Brasil garantiria um tempo significativo de TV, comparável ao que Paes terá, sem contar o fundo eleitoral. O perfil de Amorim, fortemente ligado à segurança, pode ser um ponto a favor em sua candidatura.
Pedro Duarte (Novo)

O vereador Pedro Duarte, filiado ao Novo, está consideravelmente distante do perfil bolsonarista. No entanto, caso não surja uma candidatura forte no campo conservador, seu nome pode ser lembrado. Ele se destaca como o vereador mais oposicionista na Câmara de Vereadores do Rio, embora vote alinhado com o governo em pautas liberais.
É improvável ver o apoio de partidos como o PL ou União ao Novo, o partido é pequeno demais para encabeçar uma chapa. No entanto, em cenários onde não haja uma candidatura conservadora robusta, a consideração do nome de Pedro Duarte pode se tornar mais viável.
Marcelo Queiroz (PP)

O Lorde do PP, Marcelo Queiroz, atualmente em um partido que, à primeira vista, é oposição ao Governo Lula, poderia se tornar um candidato forte em 2024 se deixasse de lado a pauta pet e focasse na oposição a Eduardo Paes. Se o Bolsonarismo fosse pragmático, o que não é uma característica evidente, um apoio conjunto do PL, União, e PP poderia garantir uma presença certa no segundo turno.
Marcelo Queiroz apresentaria um potencial de vitória significativo contra Paes, pois compartilham um perfil semelhante, ambos oriundos da Juventude Cesar Maia, por exemplo. No entanto, ele poderia perder votos de eleitores mais à esquerda se escolhesse um vice do PL. Dada essa complexidade estratégica, talvez a situação mais favorável para o Lorde do PP seja, por enquanto, ficar em segundo plano.
fonte: Diário do Rio!