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Moradores de Acari, na Zona Norte, viveram uma manhã diferente neste domingo (28). Proibida por decreto da prefeitura, a tradicional feira do bairro não aconteceu, pela primeira vez, depois de anos. Perto da estação de metrô da região, na Avenida Pastor Martin Luther King Jr, as calçadas ficaram vazias. Agentes da Seop e da Guarda Municipal, além de policiais civis e militares, chegaram ao local às 4h para impedir a montagem de barracas.
Feirantes não esconderam o descontentamento e realizaram um protesto no local contra a decisão da prefeitura. Entre 8h e 9h30, centenas de pessoas se manifestaram com faixas, cartazes e distribuição de panfletos pedindo a liberação da feira. Às 8h15, os manifestantes fizeram uma caminhada pela calçada ao som do funk “Feira de Acari”, gravado por MC Batata, e entoando palavras de ordem: “Queremos trabalhar, queremos trabalhar”. O grupo argumentou que trabalha regularmente e foi prejudicado pela medida, que visa enfrentar o comércio irregular.
O trânsito na Av. Pastor Martin Luther King Jr. teve uma faixa bloqueada por conta da manifestação e do trabalho das equipes da prefeitura. Agentes da Guarda Municipal, CET-Rio e Ordem Pública atuaram no local. Às 9h40, a via já estava liberada.
O coronel Ivan Blaz, comandante do 9º BPM (Rocha Miranda) e o delegado titular da 31ª DP (Ricardo de Albuquerque), Andre Prates, acompanharam a operação. Agentes de operações especiais de ordem pública da prefeitura utilizaram ferramentas para quebrar estruturas fixas como telhas. Escavadeiras foram empregadas para remoção das estruturas metálicas na ação. Equipes da Light fizeram a remoção de ligações de energia clandestinas.
Equipes da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) e da Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD) também estiveram presentes.
Segundo a prefeitura, a Feira de Acari vinha funcionando sem autorização. O local é conhecido pela venda de produtos com preços abaixo do praticado no mercado regular e, em alguns casos, sem nota fiscal. O evento começou na década de 1970 e ficou famoso também por uma música de Jorge Ben Jor, que dizia “A feira de Acari é um sucesso, tem de tudo, é um mistério”. Já o funk “Feira de Acari”, lançado pelo MC Batata, também ajudou a eternizar a fama do evento para todo o Brasil, após a música entrar na trilha da novela “Barriga de Aluguel”, nos anos 1990. O cantor criticou a
A PM atua na ocupação com apoio de 150 PMs do 9º BPM (Rocha Miranda), 41º BPM (Irajá), Batalhão de Policiamento em Vias Expressas (BPVE) e Batalhão de Polícia de Choque (BPChq).
Segundo o secretário de Estado de Polícia Civil, delegado Marcus Amim, as investigações sobre os produtos que chegam às feiras como a de Acari seguem em curso. “A Polícia Civil possui investigações em andamento para apurar a origem das mercadorias, bem como a relação do comércio local com organizações criminosas, para identificar e responsabilizar os envolvidos”, ressaltou.
Protesto reúne centenas de feirantes
Feirante há cinco anos, Valdecleia Ogliaruso, 37, vende papel higiênico, fralda e pão. Ela cobrou a fiscalização da prefeitura no lugar da proibição total. “Quem tiver errado, ele tira, mas quem tiver certo tem que poder trabalhar. Eu dependo disso aqui. Meu filho não pode ouvir que sou criminosa porque trabalho na Feira de Acari. Deixo bem claro: Queremos nosso direito de resposta. Se ele (o prefeito) não quer vir fiscalizar, que faça uma audiência pública”, protestou a vendedora, na manhã deste domingo.
Já Flavio de Faria Filho, 57, é feirante há 35 anos e trabalha com objetos reciclados. Ele conta que formou duas filhas trabalhando em Acari: “Uma Deus levou, mas a outra é engenheira civil. Então, hoje ela exerce uma função que sem a feira eu não teria condição de pagar”, considerou.
O feirante afirmou que os colegas que protestam dependem da feira para levar o sustento para casa. “Não estamos aqui para fazer bagunça. Colocaram esse aparato todo aqui na rua achando que iríamos vandalizar, brigar, tacar fogo, mas não. Viemos aqui na paz. Aqui é trabalho”, declarou Flávio, que trabalha vendendo objetos reciclados.
O ofício de Priscila Bernardo, 36 anos, vem de família. Ela é feirante há 16 anos no local e herdou a profissão do pai, que também vendia em Acari. “Me criou assim. Agora meus filhos estão começando a trabalhar aqui também. No meu caso, tudo que eu compro é certo e tem procedência. Os preços são bons porque negociamos e muitas vezes trazemos produtos que os mercados revendem por terem um prazo curto de validade. Esse tipo de produto é chamado de FIFO. São para consumo rápido. Não tem nada de errado”, protestou.
Uma das organizadoras do protesto, Priscila contou que já reuniu mais de mil assinaturas pela volta da feira. “Como que vão acabar com uma feira que existe há mais de 54 anos assim? Do nada?”, questionou a feirante. O grupo afirmou que vai realizar novo protesto na segunda-feira (29), às 10h.
O vereador Alexandre Beça (PSD) acompanhou parte da caminhada e demonstrou apoio aos trabalhadores. “Vamos representar a causa de vocês lá na Câmara”, prometeu.
Balanço da operação
Durante a operação, equipes da Seop demoliram dois telhados que ocupavam a calçada irregularmente e mais sete estruturas precárias, que vinham sendo usada como moradias sob o viaduto. Um trailer, um depósito de gelo localizados que obstruíam a circulação foram notificados. Foram removidas ainda seis ligações de luz clandestinas e uma de água. As ligações desfeitas resultaram na apreensão de cerca de 200 metros de fios e cabos que estavam sendo usados para furto de energia elétrica
Quatro câmeras de monitoramento, que pertenceriam ao crime organizado, foram desligadas e 14 tomadas desfeitas, além de duas centrais de comando. Os fiscais também removeram cinco veículos, sendo duas motos por circularem na passarela do metrô Acari Fazenda Botafogo. A feira fica próximo a comunidade do Acari que atualmente é dominada facção criminosa Comando Vermelho (CV).
Fonte: Odia