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As eleições para os conselhos tutelares espalhados ao redor do país neste domingo movimentaram nomes da base de apoio de Jair Bolsonaro (PL), que apostaram na politização da disputa nos dias anteriores ao pleito. A ofensiva surtiu efeito, e candidatos chancelados por políticos bolsonaristas se saíram vencedores em diferentes pontos do Brasil.
Este é o caso, por exemplo, de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, onde 19 dos 20 conselheiros que conquistaram suas vagas são ligados à direita ou à gestão de Nelson Ruas (PL), como noticiou a imprensa local. Conhecido como Capitão Nelson e correligionário de Bolsonaro, o prefeito da cidade chegou a realizar atos políticos junto do então presidente durante o pleito municipal de 2020, quando obteve uma vitória apertada no segundo turno.
A primeira colocada na corrida gonçalense por uma vaga no conselho tutelar foi Daniela Ribeiro, que obteve mais de 3,5 mil votos. Ela era apoiada pelo ex-vereador e subsecretário municipal de Fiscalização, Alcemir de Oliveira Maciel.
Também em São Gonçalo, a candidata do deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), ferrenho defensor de Bolsonaro, elegeu-se como conselheira. Ela usou nas urnas o nome “Paloma do Otoni”. Nas redes sociais, o padrinho comemorou o triunfo: “Menos uma vaga para os LGBTQIA+”.
Em Fortaleza, no Ceará, dois candidatos ligados a Mayra Pinheiro, médica que ficou conhecida durante a gestão de Bolsonaro como “Capitã cloroquina”, foram eleitos: Edilene Pessoa e Mirton Marques. Da Assembleia de Deus Montese, Edilene contou com o apoio pessoal de seu marido, o pastor Osires Pessoas Jr.
Após o anúncio da vitória, o líder religioso gravou um agradecimento especial à comunidade:
Paz do senhor a todos os irmãos, eu gostaria de agradecer a Deus por esse momento especial a todos aqueles que durante o dia de hoje se dispuseram a votar em prol de Edilene – diz o pastor, enquanto fogos de artifício queimam ao fundo.
ELEIÇÕES NO CONSELHO TUTELAR:
- Foram realizadas no dia 1º de outubro, em todo o país, as eleições para cerca de 30 mil conselheiros tutelares, que terão atuação no quadriênio entre 2023 e 2027.
- Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), os profissionais eleitos para compor o conselho devem atender menores de idade com direitos violados ou ameaçados.
- Ainda de acordo com o ECA, cada município deve ter, no mínimo, um Conselho Tutelar com cinco membros, escolhidos pela população local.
- O salário do conselheiro varia entre as cidades, já que se trata de um órgão municipal — nas capitais, ele pode ir de R$ 1.413,36 (Belém) a R$ 6.812,47 (Cuiabá).
- Em 2023, a eleição para os 6,1 mil conselhos tutelares espalhados pelo Brasil se tornou um novo palco da batalha travada entre políticos de esquerda e direita.
- A mobilização colaborou para uma votação recorde, em um crescimento de mais de 28% no número de participantes na comparação com 2019.
Ligado a vereadores de direita da Câmara de Recife, em Pernambuco, o conselheiro Luciano Ferreira se reelegeu com o maior número de votos de sua região, mais de 2,1 mil eleitores. Evangélico, ele se autointitula “ex-petista”.
Já em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, a apadrinhada do deputado estadual bolsonarista Rafael Tavares se elegeu. Maria Carolina Marquez comemorou a conquista nas redes como uma “vitória da direita”. Alinhada ao ex-presidente, ela esteve no CPAC 2023, congresso conservador organizado por Eduardo Bolsonaro e, na ocasião, posou ao lado de Gustavo Gayer (PL-GO).
Esquerda também se mobilizou
Nomes à esquerda, como os deputados federais Tabata Amaral (PSB-SP) e Jilmar Tatto (PT-SP), também se mobilizaram para a disputa. Os dois enviaram um ofício ao prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, pedindo transporte público gratuito para facilitar o deslocamento de eleitores, o que acabou ocorrendo. Já a vereadora de Belo Horizonte Iza Lourença (PSOL) publicou um vídeo em que explica as atribuições de um conselheiro tutelar e diz que é “importante escolher pessoas comprometidas com os direitos de todas as famílias”.
A estratégia também teve o seu peso. Em Fortaleza, dois nomes seguidos pelo governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), elegeram-se como conselheiros tutelares: Átila Melo e Júnior Periferia. Em suas redes sociais, ambos — além de um terceiro nome, Wescley Sacramento — defendem claramente pautas à esquerda, como a luta antirracista.
Ainda no Nordeste, região que deu o maior número proporcional de votos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições do ano passado, Salvador, capital da Bahia, escolheu pelo menos dois nomes de perfil semelhante: Marta Paim Teles e Francirley dos Reis Amorim. O mesmo aconteceu em São Paulo, com eleitos como Raphaele Santos Medeiros e Alexsandra Abrantes, que avisa nas redes sociais: “Doa a quem doer, sou PT. Se não gostou, vaza”.



