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Em entrevista ao canal ESPN em abril, quando havia acabado de chegar ao Vasco, Vanderlei Luxemburgo projetou a aposentadoria em alta pelo clube, caso seu projeto desse certo. “O Luxemburgo passou por maus momentos, mas ele é um grande treinador”, chegou a dizer, enunciando o desejado futuro. Com seis rodadas restantes para o fim do Brasileirão, já era possível avaliar positivamente o trabalho do pentacampeão brasileiro em seu primeiro ano em São Januário, mas foi o épico empate por 4 a 4 entre Vasco e Flamengo, na quarta-feira, que ratificou o acerto no “casamento” entre o técnico e o Gigante da Colina.
Em campeonato dominado pelo ofensivo e intenso Flamengo de Jorge Jesus, era uma tarefa difícil até para Luxa comandar uma equipe que jogasse de igual para igual com o arquirrival. Não só pela notável diferença técnica entre as equipes, mas também pelos momentos: praticamente livre do rebaixamento e com chances remotas de ir à Libertadores, o Cruz-Maltino teria que parar o apetite voraz do Flamengo pelos gols, pelas artilharias e pelo título, em vias de ser confirmado. A equação se complicaria ainda mais com a adição do fator clássico.
O professor, porém, sabia o que fazer. Acionou os conhecimentos de futebol — que não se esquece — e escalou um Vasco produzido para explorar as brechas que o Flamengo poderia lhe oferecer. Uma segunda linha composta por quatro volantes assustou os torcedores no papel, mas mostrou-se extremamente efetiva em campo. Abertos, Raul e Marcos Júnior fechavam os espaços pelos corredores e eram os principais responsáveis pelas transições. Enquanto isso, Richard e Guarín — ainda sem ritmo, mas em partida melhor do que as anteriores — fechavam o cadeado de uma combinação meio-defesa incansável e vibrante na marcação.
Gol relâmpago não abate
Mesmo com o gol relâmpago de Everton Ribeiro, ainda no primeiro minuto de jogo, a equipe não se abateu e viu os espaços previstos por Luxa aparecerem de fato. O esquema vascaíno facilitou que seus jogadores de lado de campo pudessem aproveitar os avanços e entrar em combate direto com a nervosa linha de defesa rubro-negra, ainda desacostumada a ser encarada de perto sucessivamente num mesmo jogo. O ataque leve e rápido composto por Rossi e Marrony encontrou terreno fértil por ali, e Pikachu mostrou seu instinto ofensivo para ganhar um pênalti em linda jogada individual.
O Flamengo voltou do intervalo mais animado após empate no fim do primeiro tempo — em inteligente jogada ensaiada que contou com infelicidade de Danilo Barcelos, em péssima noite — e pressionou, mas foi Marcos Júnior, o meia com a veia atilheira do elenco, quem novamente marcou em momento de aperto, após bela trama de ultrapassagem entre Pikachu e Rossi, em jogada pela famigerada lateral do campo.
A diferença técnica, porém, apareceria. E na forma da individualidade de Bruno Henrique, que arrancou, não deu chances à já fisicamente desgastada marcação vascaína e marcou em tabela com Arrascaeta. Mais tarde, quando o empate parecia um bom resultado para o Cruz-Maltino, o camisa 27 foi cruel: pegou de primeira uma bola desviada por Gabigol e marcou o belo gol da virada.
A vitória rubro-negra parecia desenhada, mas os deuses do futebol quiseram que um dos mais históricos clássico dos milhões terminasse em equilíbrio. Em bola aérea, o raçudo zagueiro Osvaldo Henríquez desviou para Lucas Ribamar, extremamente criticado ao longo da temporada, marcar o gol de empate que deu números finais à partida. Estrela de Luxa, que colocara o camisa em campo pouco mais de dez minutos antes.
O técnico vascaíno não irrompeu com uma genialidade ou estrutura tática de alta complexidade para igualar a partida com o time de Jorge Jesus, como fez questão de frisar na entrevista coletiva após a partida. “Estudamos o adversário. O que eu fiz foi uma coisa que não tinha visto ninguém fazer”, comentou. De fato, poucos times fizeram ao arquirrival Flamengo o que o Vasco de Luxemburgo fez no Maracanã, na quarta-feira. Sob regência de Luxa, o Vasco fez de um de seus últimos concertos o mais inspirado, e na mais complicada arena.