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O prefeito do Rio e candidato à reeleição Marcelo Crivella (Republicanos) elogiou nesta terça-feira, em sabatina ao canal “SBT”, o ex-presidente da Riotur, Marcelo Alves, um dos alvos de investigação do Ministério Público do Rio (MP-RJ) envolvendo a suposta existência de um “QG da Propina” na administração municipal. Questionado na sabatina sobre uma busca e apreensão em sua própria residência, em setembro, Crivella chamou a operação do MP de “palhaçada” e saiu em defesa de Marcelo, que se desligou da Riotur em março, após ele e seu irmão, o empresário Rafael Alves, também terem sido alvos de operação.
Segundo as investigações do MP, cujo ponto de partida foi uma delação premiada do doleiro Sérgio Mizrahy, preso em 2018, Rafael Alves seria o responsável por cobrar propina de empresas que constavam na lista de credoras da Prefeitura do Rio. Os pagamentos ilícitos, de acordo com a investigação, viabilizariam às empresas o recebimento de restos a pagar da prefeitura. Em entrevista ao GLOBO no último mês, Crivella negou as acusações de que fizesse pressões sobre seus secretários para liberar pagamentos a empresas investigadas.
— É a operação da maior palhaçada que o MP já fez. Marcelo Alves é um homem honrado. Quando assumimos (a prefeitura), o reveillon custava R$ 20 milhões, o Marcelo passou para R$ 10 milhões. No Carnaval, o Eduardo (Paes) colocava R$ 70 milhões. No último, não colocamos dinheiro nenhum, e o Carnaval foi tão bonito quanto antes — disse Crivella na sabatina do SBT.
Os números citados por Crivella em relação ao Carnaval são incorretos, como apontou checagem do Fato ou Fake neste mês. Além da verba destinada ao Carnaval na gestão anterior não ter chegado a R$ 70 milhões em nenhum ano, como apontam as estatísticas da própria prefeitura, a gestão Crivella empregou R$ 14,3 milhões este ano, como mostra a rubrica “Projeto Carnaval” do portal Rio Transparente.
Logo após a operação do MP em setembro, Crivella chegou a defender Rafael Alves, a quem também chamou de “honrado” na época. Mensagens enviadas por Rafael ao prefeito, e que constam nas investigações, apontaram que ele chegou a ameaçar Crivella com possíveis revelações sobre supostos esquemas ilícitos envolvendo seu governo e sua campanha eleitoral de 2016, na qual o empresário disse ter atuado na arrecadação de recursos, embora seu nome não apareça na prestação de contas enviada à Justiça Eleitoral. Após a revelação das mensagens, Crivella passou a argumentar que o empresário reclamava justamente que não seria atendido pelo prefeito em seus pedidos.
A nomeação de Marcelo Alves na presidência da Riotur ocorreu por influência de Rafael, como admitiu Crivella na entrevista ao GLOBO. O prefeito disse ter conhecido Marcelo durante a campanha de 2016, quando usou a casa de Rafael como estúdio para gravações.
Críticas a Paes sobre BRT
Na sabatina com o SBT, Crivella defendeu-se de críticas à mobilidade urbana do Rio, especialmente na deterioração de corredores do BRT, citando a denúncia feita pelo Ministério Público contra seu antecessor, Eduardo Paes (DEM), também candidato nas eleições deste ano. Segundo a denúncia, recebida em setembro pelo juiz Flávio Itabaiana, da 204ª Zona Eleitoral, Paes recebeu R$ 10,8 milhões da Odebrecht via caixa dois para sua campanha à reeleição em 2012. A denúncia cita uma delação premiada do ex-secretário de Obras da gestão Paes, Alexandre Pinto, que relatou cobrança de propina de 1,75% sobre o valor da obra do corredor Transoeste do BRT. O MP também acusa Paes de direcionar a licitação a favor da Obrechet. Paes nega as acusações.
Segundo Crivella, as reclamações sobre falta de manutenção e de ônibus nos corredores do BRT se explicam porque o projeto “não foi feito para o povo, e sim para roubar”.
— É preciso entrar na Justiça para recuperar não só a propina, mas também o superfaturamento. Aí, sim, vai dar para recuperar a calha do BRT (Transoeste) — disse Crivella, que culpou também a corrupção por situações de vandalismo em estações do BRT. — O povo vê que o ônibus não vem, fica irritado, não quer pagar passagem, quebra as estações. As pessoas verificaram que (a verba) ali foi para a corrupção, então causou revolta. Tudo isso quebrou o sistema.
Na sabatina, Crivella afirmou ainda que não conseguiu contar com o governo federal “da maneira como gostaríamos de contar” na pandemia da Covid-19, ao lamentar números aquém do esperado de atendimentos em hospitais federais. Em maio, a Justiça Federal chegou a determinar ao Ministério da Saúde que destituísse a diretoria do Hospital Federal de Bonsucesso por “omissão” na pandemia. O hospital foi atingido por um incêndio na manhã desta terça, e duas pessoas morreram.