Getting your Trinity Audio player ready...
|
Em meio à crise da água e ao debate pela privatização, a Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro, a Cedae, continua com loteamento político no governo Wilson Witzel a exemplo de gestões anteriores. Desta vez, um pastor, um empresário e deputados dão as cartas dentro da empresa pública nomeando apadrinhados em cargos de direção, gerência e chefia de distritos, entre outros. Em 2019, o resultado positivo da Cedae foi de R$ 800 milhões.
A guerra pelo comando da Cedae começou já no segundo turno da eleição para governador, em 2018. Homem de confiança de Witzel, o advogado tributarista Lucas Tristão, atual secretário de Desenvolvimento Econômico e Energia e Relações Internacionais, sonhava em ser o presidente da companhia. À época, Tristão ajudava na arrecadação de dinheiro para financiar a campanha do aliado e amigo.
Chefão do PSC, partido de Wilson Witzel, Pastor Everaldo, no entanto, entrou na disputa pelo controle da Cedae e derrotou Tristão na queda de braço. E logo veio a retaliação. Entre os 54 funcionários demitidos no ano passado pelo presidente Hélio Cabral, boa parte era indicação do secretário superpoderoso, que, após o rompimento, voltou às boas com Everaldo e pretende disputar a eleição para o Senado, em 2022, pelo mesmo PSC.
Pastor Everaldo, por sua vez, pôs o filho Filipe Pereira para operar seus interesses na Cedae. Filipe tem cargo de assessor especial de Witzel. Uma das influências de Everaldo, por exemplo, está na Direção da Região do Interior (DRI) da empresa, com Carlos Henrique Coelho Braz. Ele é indicação do pai, que é obreiro da igreja de Everaldo, a Assembleia de Deus. Braz foi citado numa auditoria do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ). O documento aponta irregularidades na execução de um projeto de R$ 25,9 milhões.
As mãos do empresário Mário Peixoto também passam pela Cedae. Peixoto aparece em delações premiadas da Operação Lava Jato, no Rio. Ele ficou conhecido como um dos maiores prestadores de serviços do governo do estado nas administrações de Sérgio Cabral. O empresário é ligado ao ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) Jorge Picciani, que foi preso alvo da Operação Cadeia Velha, braço da Lava Jato.
Peixoto, com aval de Picciani, pôs Gustavo Schmitd para ser assessor da presidência da Cedae, com status de diretor da Região Metropolitana. A manobra ocorreu porque Gustavo é pai do deputado estadual homônimo do PSL e, por isso, não é permitido ocupar o cargo oficialmente. O parlamentar também contribuiu para a indicação do pai embora sempre tenha negado.
Na gerência Regional da Baixada Fluminense, está Carlos Tadeu, escolhido por um grupo de deputados estaduais liderado por Léo Vieira (PSC). O político é pré-candidato a prefeito em São João de Meriti nas eleições municipais deste ano. Já o deputado André Ceciliano, atual presidente da Alerj, usou quadros do PT, seu partido, para ocuparem as chefias de dois distritos da Cedae – um que engloba Queimados, Japeri e Paracambi – e outro Belford Roxo.
Diretor no governo Cabral e Pezão
Publicidade
O presidente da Cedae, Hélio Cabral, trabalhou como diretor financeiro da companhia nos governos Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão. Deixou o cargo após desavenças com o ex-presidente da empresa Wagner Victer. Antes disso, foi funcionário do BNDES de 1975 a 2003. Chegou ao atual posto graças a Pastor Everaldo.
Ainda na gestão Pezão, Hélio Cabral atuou na negociação de um empréstimo de R$ 4 bilhões, a vencer em dezembro de 2020, junto ao banco francês BNP Paribas, dando a Cedae como garantia caso o governo fluminense não honre o acordo.
Nesta quarta-feira (15), a companhia afastou do cargo Julio César Antunes, ex-chefe da Estação de Tratamento de Água do Rio Guandu. A decisão foi tomada durante a crise de abastecimento de água no Rio. Desde o início do mês foi encontrada a presença de uma alga conhecida como geosmina, que altera o sabor e o odor da água. Antunes foi substituído por Pedro Ortolano, funcionário de carreira da estatal.
Como VEJA revelou no último dia 9, a Cedae pagará 311.900 reais pelo aluguel, nos próximos 24 meses, de um carro blindado para uso de Hélio Cabral. O contrato foi publicado no Diário Oficial. Segundo a Cedae, o objetivo é evitar ações que “poderiam levar a tentativas de retaliação” por parte de funcionários após “decisões duras, como corte de privilégios”.
Hélio Cabral foi nomeado para o comando da Cedae logo no início do governo Witzel, em 2019. Quatro anos antes, quando era membro do conselho diretor da mineradora Samarco, Cabral chegou a ser denunciado pelo Ministério Público Federal e indiciado. Ele era suspeito de ter conhecimento do risco de rompimento da barragem de rejeitos e não tomar providências para evitar a tragédia que matou 19 pessoas em Mariana, Minas Gerais. Tornou-se réu em um processo por homicídio com dolo eventual, mas foi inocentado.