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Cautela nas críticas e ataques pontuais. A campanha do ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) à sucessão do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), definiu estratégias para conviver sem polêmicas com o presidente Jair Bolsonaro e, ao mesmo tempo, não deixar de apresentar respostas às cobranças de seu eleitorado em relação às ações do governo federal. Pelas redes sociais de Paes, a ideia é não mirar diretamente em Bolsonaro ou em seus filhos, o senador Flávio (Republicanos) e o vereador Carlos (Republicanos). Eventuais alvos serão os ministros. Posicionamentos do presidente vão ser, sempre que possível, deixados de lado. Sem agressão, Paes espera conquistar a simpatia do voto mais conservador, dos evangélicos e dos bolsonaristas que formam a base do presidente.
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Estrategistas da campanha do ex-prefeito querem mostrar Paes como um gestor, e não um candidato com a marca de grupo político. Pesquisas qualitativas encomendadas por partidos da base de Bolsonaro apontam que, no Estado do Rio, em cidades da Região Metropolitana e da Baixada Fluminense, a indicação de um nome por parte do presidente tende a ser aceita por 40% a 50% do eleitorado. O percentual se repete em algumas áreas da capital. Atacar a família Bolsonaro representaria um risco: poderia colocar a perder os votos do grupo e ainda ser alvo de campanhas negativas nas redes sociais capitaneadas por apoiadores do presidente.
Um parlamentar que compõe a equipe de organização da campanha de Paes explica, sem se identificar, que “existe uma preocupação ao falar de Bolsonaro”, como já ficou claro na corrida do ex-prefeito pelo governo do Rio em 2018, e a intenção é mostrar um “gestor, que pode ter pecado pelo excesso, ao fazer uma gestão com muitas obras, mas que isso representa algo melhor do que pecar pela falta, numa referência à atual administração”. As críticas mais pesadas, revela esse aliado, serão reservadas a Crivella, sob o argumento de que o prefeito “desconstruiu tudo que havia sido deixado por Paes”.
Parte dessa movimentação já pode ser observada pelos usuários mais atentos aos comentários de Paes nas redes sociais. No início de junho, ele atribuiu ao ministro Paulo Guedes (Economia) o fato de o Brasil ter sido atropelado pelos Estados Unidos na tentativa de conquistar a direção do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), onde o ex-prefeito trabalhou por um ano após deixar a prefeitura. A um usuário que culpou Bolsonaro pelo episódio, o candidato do DEM respondeu: “Aí é o ministro! Arrogância dá nisso”, esclarecendo em seguida que se referia a Guedes. Em episódio mais recente, ele disse a uma seguidora no Instagram que “o bispo, o bispo e o capitão” estão “meio perdidos” nas medidas de distanciamento social contra a Covid-19. A menção excepcional a Bolsonaro não foi explícita.
Esses cuidados nas redes sociais — que já dão um direcionamento nas contas de Paes — não ficarão restritos às publicações do ex-prefeito e do DEM. Partidos que fecharem apoio à candidatura seguirão a mesma linha. Entre as legendas que costuraram a aliança está o Partido Verde (PV). Cidadania, Avante e Democracia Cristã (DC) ainda estudam o embarque na candidatura.
Procurado pelo GLOBO para comentar os detalhes da campanha, Paes confirmou que pretende manter o tom ameno quanto Bolsonaro, mas disse que essa não é uma decisão isolada ao caso do presidente. Ele pretende permanecer em trégua com representantes de outros espectros políticos.
— Eu não tô me opondo a ninguém. Não tô nem aí pra ninguém, só tô ligando pro Rio. Não tô aí para o Bolsonaro, Lula, Marina, Ciro, João Amôedo, para ninguém. O meu foco é a cidade — afirmou Paes, admitindo a crítica feita a Guedes no Twitter: — Mas o Twitter é uma ferramenta de comentários, às vezes você tá respondendo a um ou outro questionamento e acaba emitindo uma opinião, mas não chega a ser um posicionamento. Às vezes, eu faço muita gozação também, né? Eu fico soltinho. Mas não quero brigar com nenhum deles, Deus me livre!
Paes completou ainda afirmando que as pessoas não o verão criticando “nem o Bolsonaro e nem o Lula”, uma vez que pretende contar com parte do eleitorado de ambos para se eleger. Ele finalizou dizendo destacando uma das vantagens de já ser conhecido pela população.
— As pessoas sabem no que acredito e não acredito, tenho uma identidade formada. Não preciso dizer algo para que as pessoas saibam que sou um democrata. Tem coisas que já estão definidas. Quem faz isso é quem está se apresentando ou precisa de bengala, como é o caso do Crivella: ministro da Dilma (Roussef, ex-presidente) que virou Bolsonaro desde pequenininho — alfinetou o ex-prefeito.