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Morte de Adriano e prisões de ‘intocáveis’ impactam milícia de Rio das Pedras, que age agora com maior discrição

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A primeira fase da Operação Intocáveis, em março do ano passado, já havia levado a prisões federais algumas das principais cabeças da milícia de Rio das Pedras, como o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira, Maurício da Silva Costa, o Maurição, e Marcus Vinícius Reis dos Santos, o Fininho. Apesar de fragilizado, o negócio não parou e a movimentação dia e noite de milicianos na comunidade continuava evidente. Este ano, em pouco mais de uma semana, no entanto, o cenário mudou após dois duros golpes à organização criminosa: a segunda fase da Intocáveis e a morte, no domingo (9), de Adriano Magalhães da Nóbrega, o Capitão Adriano, na Bahia, fez com que a atitude dos paramilitares passasse a ser diferente da usual.

A ida à cadeia da cúpula que atualmente tocava os negócios da quadrilha, formada por figuras como o PM Fábio Costa da Silva, o Fabinho, primo de Maurição, e, também, do chefe de investigações da 16ªDP (Barra da Tijuca), o policial civil Jorge Luiz Camillo Alves, acendeu de vez o sinal vermelho para os paramilitares. O desfile de soldados armados de pistola na cintura e lideranças da milícia pelas ruas da comunidade, antes comuns, se tornaram mais raros. O maior sintoma disso pode ser visto na feira livre de Rio das Pedras, que acontece todo domingo, e ainda é um dos grandes negócios dos milicianos.

Autorizada pela prefeitura, a venda ao ar livre, segundo moradores, há anos foi dominada pela milícia, que estende o horário de funcionamento além do permitido e a transforma, também, num forró sem hora para acabar, que ocupa a Avenida Engenheiro Souza Filho e impede, por exemplo, que carros e ônibus passem. No domingo da morte de Adriano, dia 9 de fevereiro, moradores dizem que a feira, e outros tantos, como estacionamentos irregulares, continuaram a todo vapor, mas os milicianos não se expõem mais como antes.

— Desde a Operação Intocáveis você só vê os buchas na rua. Os que tomam conta não dão mais as caras. Só aparecem para recolher as taxas com a sacolinha. (Domingo) cedo, mesmo, os caras que cobram dos comerciantes na feira livre só apareceram, pegaram o dinheiro e caíram fora. Agora com essa tragédia para eles do Adriano… nosso medo é só que essa aparente calmaria estoure numa guerra pelo poder — conta um morador que, por questões de segurança, não revela sua identidade.

Um outro membro da comunidade também comenta a diferença. Segundo ele, está tudo “mais calmo”, apesar de o bando ainda exercer poder sobre os moradores.

— Está tudo bem mais calmo. Aqueles carros de luxo, as mesmas pessoas sentadas no bar todos os dias observando todos não há mais. Só passam a sacolinha e vão logo embora. Eles ainda têm força, mas longe de ser como era antigamente. Parece até que fugiram — diz.

RELEMBRE:Operação Os Intocáveis: conheça os alvos e veja como age a milícia que comanda Rio das Pedras

Na última sexta-feira, um outro morador também relatou como tem sido a ação dos paramilitares, que nunca fizeram questão de esconder o poder que impõem em Rio das Pedras, Muzema e adjacências.

— Você não vê mais o movimento que via antes, de gente de moto passeando, tirando onda armado, agora estão todos camuflados, porque sabem que podem levar um bote. Mas, por outro lado, hoje (sexta-feira) passei na Vila da Paz e na Tijuquinha e vi dois milicianos extorquindo moradores e comerciantes lá. Hoje é sexta, é o dia da cobrança — afirma.

‘Parecia chefe de Estado’

Ao assumir o comando da comunidade, o Capitão Adriano passou a circular muito pouco pela comunidade nos últimos anos. Acredita-se que a última ida do miliciano à área tenha sido numa espécie de prestação de contas que teve com outras cabeças da milícia, Maurição e Fininho, numa padaria, no segundo semestre de 2018. Na ocasião, diz uma fonte, o aparato de Adriano, a quantidade de guardas e o equipamento usado por eles, chamou atenção.

— O aparato era muito grande. Ele tinha segurança de chefe de Estado. Era muita gente. As pessoas ficavam abismadas, era muito carro preto, quatro ou cinco. Quando ele foi embora, foi como se saísse com batedores — conta.

Na semana passada, polícia chegou a resort onde Adriano estaria se escondendo na Bahia: lá, foi encontrada uma identidade falsa usada pelo miliciano Foto: Reprodução
Na semana passada, polícia chegou a resort onde Adriano estaria se escondendo na Bahia: lá, foi encontrada uma identidade falsa usada pelo miliciano Foto: Reprodução

O Escritório do Crime

  • Fundadores Mortos

Os três fundadores do Escritório do Crime foram mortos num intervalo de pouco mais de três anos em situações distintas. Adriano foi baleado numa ação do Bope da Bahia. O ex-tenente João foi executado perto da casa onde morava, na Ilha do Governador. Já Bator é foi morto num carro junto com o traficante Fernando Gomes de Freiras, o Fernandinho Guarabu, por PMs na Ilha do Governador.

 

  • Novo chefe

A polícia e o MP já sabem que o grupo tem um novo chefe. Ele não é policial. É ligado à milícia que domina a Praça Seca e já foi alvo da investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco.

  • O nome

A quadrilha foi batizada em referência ao local onde os integrantes se encontravam: um bar na Favela Rio das Pedras, chamado de “escritório” pelos matadores.

 

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